Filha do Rei Dragão
Carta a São Jorge
Sou Filha do Dragão que te pariu!
Dragão olhar da Noite.
Brilha gatuna
em seu manto breu.
Trás sonho a nossa
Lenta e diária
Morte do sono.
Acorda!
A noite sonha e dispara
A face oculta do eu.
Quem sonhei?
Borboletas no nosso quintal
Pé de abacate e aviões.
Radio fm
Tocando Gil sem parar.
um domingo maior e um béque
Isso é vida que eu quero
Pra mim
Dragão de água doce
Minha mãe criança no quintal
E o menino Chico já vai embora!
Dragão de água serpente
Tão verde aparente
Quão vermelho é
Seus dentes
Olhar quente
É a musa oponente
Tão cobra
seu negro
Olhar de nua
Sou sua!
Lua indecente
Aflora dos homens
O sonho de amar
Doce luar
Menino querendo voar
Crescendo na noite
Pássaro coruja
Querendo te olhar
Até que chego
O dia da noite
Em que de tão cheia
Se faz transbordar
De copo e água ardente
Tão linda se expande
Querendo dançar
Valsa com lobos
Tão meio é o olhar
Um olho no peixe
E outro no rabo
Transborda seu sangue
Em Brilhantes
estrelas do mar
Peixes dourados
de espelhado
Transar
Ela
Dança
Mesmo sem par.
Apenas fulgazes
São suas faces .
Quem não iria imaginar?
Lua perene
se esconde escudo
De negro vestido
E brilhante colar
Luto em altar.
Ela Chuva em
solidão escondida
Noites Brilhantes
de tanto chorar.
Até que em seu beco
Sorriso maroto começa a brotar.
Lá vai ela de novo
Filha dragão atrás
Sempre nova
do frio fatal
De raios metálicos
Olhar de seu Jorge.
Louco e sereno
Seu corte no ar
Armando seu peito beijar.
No dia seguinte
Apenas se lembra
Que um tal de demonio
Ele tem que matar.
E ela se queixa
Reclama um pouco
Mas volta a jogar
De natureza inconstante
Prefere morrer
em seus braços um instante
Que nunca tentar encontrar
a abertura
no Eterno minuto ou agora
Se acaso algum dia
Ele para e permite
O tempo nem sempre
Precisa acabar.
Rompendo em cavalo
Buscando seu sol de ouro
em algum outro lugar.
E sabe que pra isso
Com ela não pode estar.
Mas quem sabe algum
Dia ela há de reconhecer.
Tão forte em sua paixão
Porém
Escravo involuntário
Do dramático querer:
Seu poder é sua Lua.
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